Alumbramento

alumbramento
reinventar do tempo
alumbramento
reinventar do tempo
quanto tempo observei esse momento?

o pescoço inclinado para o lado esquerdo

e se acomodando no ombro direito outro
um corpo acomodado
quieto se inquieta
só por ser visto
um olhar desavisado
rememora o que estava desacordado

acordos e acordes
para uma mão 
que pega na mão outra
brinca com dedos
um deslize

observar falanges 
como quem premedita futuros
dois dedos 
pra tocar o mais fundo do mundo
o desejo é um absurdo
que não pede licença
e se instala
uma cena fora do sofá da sala
explícito

um querer indizível
gritos, sussurros
premonindo sorrisos

de longe se via os poros eriçados
enquanto a outra sorria
desejo é magia, encantaria
se inspiração existisse era bem ali
na fenda entre elas que estaria

no entre de duas bocas
que sorriem e não se beijam
que se imaginam e não se tocam

me perguntaram o que era inspiração
imaginando essa cena vi
e constatei:

a inspiração é um suspiro que pausa
que antecede o flerte
e verte poemas que não são nossos
mas bem que poderiam

que estimula o desanuviar
do peito de quem desacredita
que o nascer do sol mais quente
habita em outra retina

alumbramento
reinventar do tempo
quanto tempo observei esse momento?