Fim da farra
Luiza Romão
depois de te esbarrar na catraca da estação palmeiras-barra funda
depois de fundar um borboletário entre o esôfago e a vesícula
lá vem alerta turbilhão
depois de néctar galáxias
de madrugadas estreiteza afago consumação
depois de afogar as quarenta e cinco borboletas em ácido gástrico
depois de repassar cada mensagem encontro detalhe
e se eu tivesse sido mais
dúctil menina
enfática mariposa
segurado a farra não deixado transparecer
depois de catuaba casulo avenida matarazzo
crisálida tatuar suas iniciais na coxa
não olhar o semáforo escutar a mesma fucking música
amaldiçoar seu nome
bloquear seu número apostá-lo na megasena
torrar todo o prêmio te procurar em cada bar boteco balcão
insônia azul royal
depois de criar um saara no canto do olho
e descobri que uma borboleta não vive mais do que 2 a 3 semanas
depois
bem depois
numa tarde com as amigas lendo Idea Vilariño
esquecer seu nome
assim como quem esquece um guarda chuva na sala do dentista
e com um tremelicar nos olhos decretar
aquele boy
nem era (é) pra tudo isso
Ficha Técnica
Música: Daniel Turcheto
Letra e Voz: Luiza Romão
Programação: Pipo Pegoraro e Dani Turcheto
Baixo: André Vasconcellos
Sintetizadores: Zé Nigro
Cavaco : Dani Turcheto
Luiza Romão é poeta, atriz e slammer. Autora dos livros Sangria, Também guardamos pedras aqui (vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Livro de Poesia e Melhor Livro do Ano) e Nadine. Bacharela em Artes cênicas, também é mestre e doutoranda em Teoria Literária e Literatura Comparada (USP). Pesquisa poesia em performance.